18 de jan. de 2014

EU...

Estava tão acostumada a fingir – como rotina, costume e profissão – que conseguia convencer a todos sobre o sentimento que queria transparecer. Às vezes fingia um sorriso, outras vezes uma virtude ou então uma opinião. Era triste tantas vezes no dia que perdera a conta, mesmo porque contar tristezas era difícil por ela mesma se confundir sobre quais momentos realmente era ou deixara de ser, por fingir tão bem.
Toda a sua vontade era a de ficar deitada durante o dia inteiro por horas, sem dormir, sem ouvir musica, de preferência sem pensar, apenas estar ali com toda aquela insegurança que era ser ela mesma. A cama e o quarto fechado davam-lhe uma impressão confortável e ao mesmo tempo angustiante de ser apenas ela.
Fingia não ouvir quando batiam à porta com convites para sair, era tão difícil recusar um convite pra se divertir porque todos acreditavam que era disso que ela gostava e ao mesmo tempo aceitá-los era ir de encontro com o que pregava a si mesma (naqueles momentos de solidão sem pensar e sem dormir). Algumas vezes ela fazia um esforço imenso pra sair do casulo que se encontrava e ia, mas o tempo todo pensava que aquilo ali era como se fosse um pagamento pelo fato de viver, como se tivesse pagando o aluguel do pedacinho de mundo que ocupava, e que, no entanto, provavelmente, também não era o dela.
Ela saia de casa pra se divertir apenas pra provar que sair nunca mais poderia ser divertir, apenas pra medir qual o grau de solidão era maior (quando estava só ou acompanhada). Saia como obrigação, como pagamento, como promessa, como provação.
Sempre voltava com a certeza da certeza, certeza esta que ela não queria ter. Certeza de ter nascido pra ser só e que apenas quando não era ela mesma poderia ser dupla, casal, trio ou grupo. Somente quando fosse outra poderia pertencer, enquanto isso, na maioria do tempo, lutava pra ser sozinha e sincera durante, pelo menos, o tempo que merecia e que precisava ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário